terça-feira, 29 de maio de 2012

MASTOCITOSE

A  Mastocitose é uma doença caracterizada pelo acumulo desordenado de mastocitos em varios orgaos, manifestando-se através de um amplo espectro de alterações clinicas. 
A sua prevalencia na população geral é dificil de determinar, pois muitos casos são autolimitados e/ou não diagnosticados, mas estima-se que na infancia esteja próxima de 5,4 casos em cada 1.000 crianças atendidas em clinicas de dermatologia pediatrica.
A Mastocitose é definida como sistemica quando ocorre um aumento anormal dos mastócitos em diferentes locais, alem da pele. 
Na Infancia , a doença é considerada , na maioria das vezes, uma condição benigna, cuja apresentação caracteristica é a cutanea : Mastocitoma, Urticaria Pigmentosa e Mastocitose Cutanea difusa.
O atrito ou escoriação das lesões causam urticação e eritema perilesional , caracterizando o SINAL de DARIER.
Embora os sintomas sistemicos sejam RAROS, evidencias de comprometimentos multiplos podem ser demonstradas em até 50 % dos casos, dependendo também do esforço feito para detectá-los.
A mastocitose pode envolver orgãos internos, incluindo a medula ossea, trato gastrintestinal, sistema esquelético e linforreticular ( baço, figado e linfonodos ). 
Os sintomas podem ser restritos ao órgão envolvido ou sistemicos, devido a liberação local ou generalizada de histamina ou outros mediadores. 
Os Mastocitos tem a capacidade de gerar uma grande quantidade de mediadores que são responsaveis por efeitos nos órgãos alvos, a curto e a longo prazo.
O conjunto de sintomas clinicos associados a mastocitose é o resultado do aumento da produção ou liberação desses mediadores, os quais agem tanto nos seus locais de produção quanto em zonas distantes da sua origem, independentemente da etiologia do aumento dos mastocitos ou da categoria da doença. 
Esses mediadores podem circular atraves dos vasos sanguineos ou linfaticos para produzir efeitos biológicos observados nos pacientes com mastocitose. 
O inicio das manifestações da mastocitose pode ocorrer em qualquer idade, porem, em mais da metade dos pacientes é visto entre o nascimento e os 2 anos. 
Embora muitos orgãos possam estar envolvidos, a apresentação mais comum é a cutanea. 
As expressões clinicas da mastocitose cutanea são TELANGIECTASIA MACULARIS ERUPTIVA PERSTANS, MASTOCITOMAS, MASTOCITOSE CUTANEA DIFUSA e URTICARIA PIGMENTOSA.
As 4 categorias tem caracteristicas clinicas que são devidas ao excesso de produção de mediadores dependentes dos mastócitos, embora alguns aspectos da doença possam predominar em um tipo especifico.
O diagnóstico da doença é suspeitado clinicamente e confirmado pela histologia.
Atualmente, a demonstração de um aumento de mastócitos em lesões cutaneas caracteristicas se constitui no teste padrão-ouro para o diagnóstico de mastocitose.
Em certos pacientes suspeitos da forma sistemica, mas nos quais faltam os sintomas e os sinais caracteristicos da doença, testes como niveis sericos ou urinários de mediadores de mastócitos ou seus metabolitos podem ser uteis ( histaminas, prostaglandinas D2, triptase e N-metil-histamina, entre outros ).
A Mastocitose Cutanea recebe a denominação de TELANGIECTASIA MACULARIS ERUPTIVA PERSTANS quando as telangiectasias são a caracteristica predominante, com pouca pigmentação e edema. Praticamente não ocorre na infancia, mas nos adultos ela é persistente e pouco responsiva ao tratamento.
Lesões solitarias chamadas de mastocitomas são umas das apresentações caracteristicas da mastocitose em pediatria.
Representam 15 % dos casos da molestia e na maioria das vezes , as lesoes involuem espontaneamente. Apresentam-se como nodulos vermelhos, rosas ou amarelados, com 3 a 4 cm de diametro, podendo ser multiplos.
Na infancia são assintomaticos ou com edema quando friccionados, podendo desencadear FLUSHING e hipotensão.
A Mastocitose Cutanea difusa é uma variedade rara e consiste de uma infiltração difusa da pele com mastocitos podendo ter lesões isoladas. Usualmente todo o tegumento ( pele ) está envolvido, manifestando-se através de um espessamento difuso, de consistencia empastada, semelhante ao couro, com coloração normal ou amarelo-acastanhada e prurido intenso. 
Os locais mais afetados são axilas e região inguinal, porem a apresentação pode ser sistemica com hepatoesplenomegalia.
Na infancia , entre as expressões cutaneas da mastocitose, a que ocorre com maior frequencia é a  URTICARIA PIGMENTOSA. 
Ela é vista em mais de 90 % dos pacientes com doença leve , e em menos de 50 % daqueles com mastocitose associada a doença hematologica ou com linfadenopatia e eosinofilia.
As lesões de Urticaria Pigmentosa caracterizam-se por máculas eritemato-acastanhadas ou papulas levemente elevadas e esparsas, com bordas pouco definidas. 
As palmas, plantas, face e couro cabeludo podem estar livres de lesões.
Traumas leves, incluindo escoriações ou atrito, normalmente causam urticação e eritema perilesional, conhecidos como SINAL DE DARIER.
Urticaria Pigmentosa está associada com uma intensidade variavel de prurido ( coçeira ), que pode ser exacerbado por alterações climaticas, fricção da pele, ingestão de bebidas quentes ou comidas condimentadas, alcool e certos medicamentos , todos mecanismos que favorecem a degranulação de mastocitos com a liberação de mediadores quimicos.
A Urticaria Pigmentosa, na maioria dos casos, evolui com regressão espontanea da doença, antes ou durante a puberdade. Porém, quando isso não ocorre, ou nos pacientes com alterações sanguineas perifericas, linfadenopatia, hepato ou esplenomegalia, deve ser realizada uma investigação sistemica mais detalhada, pois manifestações ou sinais clinicos só são evidentes quando o compremetimento já é extenso.  Amostras de tecidos linfaticos, baço , figado e mucosa gastrintestinal ajudam a definir a extensão da doença. 
Lesões cutaneas bolhosas podem manifestar-se e acompanhar todas as formas de mastocitose, porém , quando essa apresentação é a predominante, é denominada de MASTOCITOSE BOLHOSA. Esta variedade, mais rara, ocorre em crianças e está associada com envolvimento sistemico e prognostico mais reservado, inclusive com relato de casos que evoluiram a óbito. 
De acordo com Murphy, os pacientes com alto risco de choque ou morte subita seriam aqueles com lesões bolhosas extensas, sintomas de vasodilatação, flushing ou hipotensão e aqueles com inicio muito precoce da doença, ainda no periodo neonatal. 
Para essas crianças, estaria recomendado um acompanhamento mais cuidadoso e orientação dos pais com relação aos potenciais degranuladores de mastócitos. 
O envolvimento gastrintestinal pela mastocitose é relacionado na literatura como um evento não tão comum. 
As principais manifestações em crianças seriam os sintomas gastrintestinais por ulceração peptica e mal-absorção com atrofia de vilos. Hipersecreção gastrica, devida ao aumento plasmatico de histamina resultando em gastrite e ulcera peptica, seriam os problemas mais comuns, bem como diarréia e dor abdominal, relacionadas com mal-absorção em até um terço dos casos.
Além do comprometimento gastrintestinal a mastocitose pode atingir outros órgãos, como os sitstema linforreticular, sistema esqueletico e a medula óssea.
Hepatoesplenomegalia pode ser detectada em 40 % , envolvimento ósseo visto em radiografias em 57%, e alterações hematologicas , como anemia , leucocitose e eosinofilia em mais de 50 %.
Manifestações hepaticas e esplenicas, inclusive hipertensão portal e ascite, devida a fibrose hepatica, são mais comuns em pacientes com mastocitose associada com doenças hematologicas ou naqueles com mastocitose agressiva. 
A infiltração da medula ossea com mastocitos pode incluir alterações osseas, que causam lesoes detectaveis em radiografias na maioria dos casos, atraves de lesoes liticas ou condensadas.
Os Ossos longos proximais são os mais comumente afetados, seguidos pele pelve, costelas e cranio. 
A cintilografia ossea é o exame mais sensivel para detectar e localizar lesões ativas. Dores osseas acometem de 19 a 28 % dos pacientes e, naqueles com doença mais grave ou avançada, podem ocorrer fraturas patologicas. 
As Alteraçoes na medula ossea consistem de agregados paratrabeculares de mastocitos fusiformes, frequentemente misturados com eosinofilos, linfocitos e ocasionalmente plasmocitos, histiocitos e fibroblastos. 
Elas raramente são vistas em crianças. 
Anemia , leucopenia, leucocitose, trombocitopenia e eosinofilia podem, entretanto, ocorrer em associação a doença sistemica. 
Sangramento prolongado na pele ou no trato gastrintestinal tem sido observado nos pacientes pediatricos com mastocitose, principalmente naqueles com mastocitose cutanea difusa.
Além dessa manifestaçoes hematologicas, já foi relatada a ocorrencia de displasia ou neoplasia de celulas mieloides com mastocitose sistemica, principalmente em adultos.
Pacientes com mastocitose muitas vezes apresentam manifestações cardiovasculares, como flushing, hipotensão, taquicardia, sincope e choque. 
Tais reações são secundarias ao efeitos dos mediadores, liberados pelos mastocitos por agentes que estimulam sua degranulação. 
Entre os degranuladores mais relevantes estao as toxinas bacterianas, os etimulos fisicos ( calor, frio, luz solar, fricção), venenos ( cobra , Hymenoptera) , polipeptideos biologicos ( de ascaris, agua - viva , lagosta, veneno de vespa e abelha ), polimeros ( dextrano) e medicamentos ( acido acetilsalicilico, codeina, morfina, polimixina B, quinina, contrastes radiograficos, escopolamina, galamina, decametonio, reserpina ) . 
O principal objetivo do tratamento de todas as categorias de mastocitose é o controle dos sinais e sintomas determinados ou provocados pela liberação dos mediadores dos mastocitos.
Os pacientes devem sempre evitar e prevenir o uso de agentes degranuladores dos mastocitos. Tanto em adultos quanto em crianças , os antagonistas dos receptores H1 sao uteis em reduzir prurido , flushing, o sinal de Darier e a taquicardia. Se forem insuficientes , a adição de um antagonista H2 pode ser benefica. 


Dr. Antonio Carlos de Oliveira Biel
Alergista e Imunologista - ASBAI


Referencias:
- Fernadez AT, Campamor LN, Mora LE, Zambrano AZ . Diagnostico , tratamento y classificacion de la mastocitosis pediatrica. Estudio de 172 casos. Actas Dermosifiliogr 1998;89: 461-76.
- Revista Asbai 2005 , Jornal de Pediatria , 2002, Evódie I.Fernandes , Beatriz C. de Faria, André Cartell, Boaventura A. dos Santos, Tania F.Cestari.


quinta-feira, 24 de maio de 2012

SÓ PARA DESCONTRAIR

QUEM NUNCA PENSOU ISSO ??? RS... BOM DIA A TODOS!!!


Angioedema Hereditario

Angioedema labial



acessem o site da Associaçao Brasileira dos Portadores de Angioedema Hereditario - Abranghe



www.abranghe.org.br



Vamos divulgar essa doença , ela tem controle!!! E se não tratada, é potencialmente fatal.



quarta-feira, 23 de maio de 2012

MEU FILHO É DIFICIL DE ALIMENTAR

A seletividade exagerada é um dos disturbios da Alimentação mais frequentes e deve ser avaliada como todo o cuidado para que o pediatra possa impedir as consequencias adversas de um problema que pode cronificar e levar a sequelas antropometricas e clinicas.

A criança que seleciona o que comer, é classificada como SELETIVIDADE EXAGERADA. Essa situaçao clinico-nutricional também é caracterizada na literatura como um criança com AVERSÃO sensorial , PICKY EATER, criança que escolhe demais ou neofóbica.
São Crianças que costumam seguir um padrão familiar em que a extrema escolha dos alimentos é acompanhada de disturbios sensoriais, com reação exagerada ou sensação desagradavel a alimentos de determinadas consistencias, texturas, cores, sabores, além de reação a toques ou a pisar em superficies arenosas, granulosas, e outras.
A reação sensorial pode ser tátil, auditiva ou gustativa. Muitas vezes há discreto atraso no desenvolvimento orofacial e motor. O quadro de seletividade alimentar usualmente tem inicio as se introduzirem alimentos de transição ou com consistencia diferente da pastosa. 
A criança tem dificuldades de mastigação, e tem preferencias por alimentos semelhantes, marcas, produtos e cores especificos.
Quase sempre são crianças que não comem alimentos novos a não ser após inumeras exposições repetidas, e quando forçadas ou quando se insiste demais em que ingiram alimentos não apreciados, podem engasgar, vomitar ou se isolar.
Esse comportamento faz com que se isolem, não frequentem casas de amigos ou parentes, ou ponham-se à parte no período do lanche escolar.
A seletividade é mutante e comem bem alimentos de que gostam, mas não experimentam, sendo que muitas vezes tem periodos de adoração a um alimento e repentinamente, sem qualquer explicação, rejeitam definitivamente o mesmo alimento, levando seus pais e cuidadores ao desespero.
Apesar de conseguirem manter o estado nutricional preservado por bastante tempo, suas preferencias podem levar a carencias especificas como deficiencia de ferro, zinco, calcio, vitaminas, especialmente se não ingerem carnes, frutas, verduras, legumes ou derivados lacteos. A curva ponderal pode apresentar decrescimo lento e gradual, acompanhado pela diminuição da velocidade do crescimento, como acontece no caso acima.
O comportamento durante as refeiçoes é bastante irregular, com rituais intensos de manipulação. Demoram muito para comer, jogam com os alimentos no prato, derrubam talheres e pratos, e usam inumeras desculpas para não comer. 
Tipicamente quando alimentos especificos são colocados na boca , a aversão inicial é seguida de recusa sistematica e tendem a generalizar o comportamento para diferentes produtos. Usualmente , quando maiores, tendem a comer melhor na casa de parentes ou na escola. 
No entanto, o diagnostico de seletividade exacerbada deve ser considerado quando há associação do habito alimentar inadequado, dos disturbios sensoriais e da alteração nutricional, acompanhada de extrema ansiedade ao serem expostos a alimentos de que não gostam. 
O tratamento da criança seletiva deve ser dirigido a estabelecer um entendimento por parte de seus pais e cuidadores de que o problema é amplo, tem influencia familiar, e envolve varios orgãos do sentido . 
A criança necessita de modelos, de limites e de pessoas experientes e dedicadas para desenvolver uma mudança de atitudes de toda a familia. A criança deve ser convencida, educada e nunca agredida, por mais sutil que seja a pressão. 
O diagnostico deve ser feito precocemente evitando-se a deterioração do estado nutricional, o aparecimento de carencias especificas e o decrescimo da curva ponderal . 
Do ponto de vista nutricional, o uso de alimentos preferenciais ou de maior aceitação deve ser EVITADO e os alimentos novos devem ser sempre ofertados para o restante da familia, mas não para a criança seletiva, visando estimular a curiosidade.
A criatividade na apresentação dos alimentos é essencial, visando captar a atenção da criança. 
Tecnicas de educação nutricional devem ser adotadas a longo prazo e não somente uma orientação nutricional esporadica. A educação nutricional deve ser realizada por profissionais experientes e , às vezes , com intervenção de psicólogos familiares e fonoaudiologos. 
Para manutenção do estado nutricional durante o periodo de educação nutricional , o uso de um suplemento nutricional adequado, com formula equilibrada e completa, que proporcione um "seguro alimentar ", deve ser considerado. 
Em caso de diagnostico de deficiencias nutricionais especificas, pode ser necessaria a utilização de medicamentos com ferro e zinco. 
Suplementos completos possuem quantidades adequadas desses nutrientes e tem resultados comprovados em estudos feitos com pré - escolares brasileiros e em estudos internacionais. 
O tratamento precoce é mais facil, especialmente no periodo de introdução de novos alimentos , enquanto que os pré-escolares exigem maior exposição a novos alimentos , ate dezena de vezes.
É essencial que o pediatra e os profissionais da saude tenham conhecimento dos tipos de diagnosticos dos disturbios alimentares, reconhecendo a seletividade exacerbada. E deem prioridade à preservação e ou tratamento das deficiencias nutricionais gerais e especificas neste momento crucial do crescimento e desenvolvimento. Deve ser parte imprescindivel da consulta pediatrica a identificação dos problemas nutricionais , o que demanda tempo e paciencia, alem de tecnicas adequadas de educação.
Os pais devem evitar Promessas, privilegios, ameaças e recompensas se a criança se alimentar, porque distraem a criança do objetivo principal e tem resultados pouco adequados. O modelo familiar é fundamental e essas crianças tendem a repetir comportamentos e rituais dos adultos da casa.
As crianças tendem a experimentar um novo alimento se observam seus familiares comendo os mesmos. Atitudes neutras são mais favoraveis que o excesso de elogios ou castigos. No entanto, algumas crianças persistem com comportamentos seletivos exagerados por muitos anos, e muitas levam esses rituais até a vida adulta. Remover a pressão intensa sobre elas pode ser o papel de suplementos alimentares , enquanto o processo educacional é realizado.

Algumas dicas:

1 - Crianças comem melhor quando recebem alimentos conhecidos e favoritos.
2 - Aceitam melhor alimentos que a familia aceita bem.
3 - Evitar ansiedade da criança oferecendo sistematicamente alimentos que causem ojeriza.
4 - Evitar situação de estresse obrigando a criança a comer em casa de amigos ou parentes.
5 - Realizar dessensibilização gradual, evitando oferecer alimentos quando a criança engasga ou vomita.
6 - Se a criança rejeita ou cospe alimentos, oferecer pequenas quantidades em outros momentos, seguidas de bebidas ou alimentos que a criança aceita normalmente.
7 - Aumentar gradualmente a oferta de alimentos menos aceitos.
8 - Rodiziar alimentos em refeições e dias.
9 - Oferecer alimentos a familiares, mas não para a criança ( avisar que o alimento é da familia mas que, se ela quiser, a familia irá oferecer para que ela experimente ). 
10 - Ficar neutro independentemente da criança aceitar ou não um novo alimento. 
11 - Trabalhar com educação nutricional com apoio de profissionais da area de nutrição.
12 - Alimentos podem ser decorados , ter carater ludico, mas não devem ser mascarados ou escondidos das crianças. 



Dr. Antonio Carlos de Oliveira Biel
Alergista e Imunologista
Araçatuba , 23 de maio de 2012.