A seletividade exagerada é um dos disturbios da Alimentação mais frequentes e deve ser avaliada como todo o cuidado para que o pediatra possa impedir as consequencias adversas de um problema que pode cronificar e levar a sequelas antropometricas e clinicas.
A criança que seleciona o que comer, é classificada como SELETIVIDADE EXAGERADA. Essa situaçao clinico-nutricional também é caracterizada na literatura como um criança com AVERSÃO sensorial , PICKY EATER, criança que escolhe demais ou neofóbica.
São Crianças que costumam seguir um padrão familiar em que a extrema escolha dos alimentos é acompanhada de disturbios sensoriais, com reação exagerada ou sensação desagradavel a alimentos de determinadas consistencias, texturas, cores, sabores, além de reação a toques ou a pisar em superficies arenosas, granulosas, e outras.
A reação sensorial pode ser tátil, auditiva ou gustativa. Muitas vezes há discreto atraso no desenvolvimento orofacial e motor. O quadro de seletividade alimentar usualmente tem inicio as se introduzirem alimentos de transição ou com consistencia diferente da pastosa.
A criança tem dificuldades de mastigação, e tem preferencias por alimentos semelhantes, marcas, produtos e cores especificos.
Quase sempre são crianças que não comem alimentos novos a não ser após inumeras exposições repetidas, e quando forçadas ou quando se insiste demais em que ingiram alimentos não apreciados, podem engasgar, vomitar ou se isolar.
Esse comportamento faz com que se isolem, não frequentem casas de amigos ou parentes, ou ponham-se à parte no período do lanche escolar.
A seletividade é mutante e comem bem alimentos de que gostam, mas não experimentam, sendo que muitas vezes tem periodos de adoração a um alimento e repentinamente, sem qualquer explicação, rejeitam definitivamente o mesmo alimento, levando seus pais e cuidadores ao desespero.
Apesar de conseguirem manter o estado nutricional preservado por bastante tempo, suas preferencias podem levar a carencias especificas como deficiencia de ferro, zinco, calcio, vitaminas, especialmente se não ingerem carnes, frutas, verduras, legumes ou derivados lacteos. A curva ponderal pode apresentar decrescimo lento e gradual, acompanhado pela diminuição da velocidade do crescimento, como acontece no caso acima.
O comportamento durante as refeiçoes é bastante irregular, com rituais intensos de manipulação. Demoram muito para comer, jogam com os alimentos no prato, derrubam talheres e pratos, e usam inumeras desculpas para não comer.
Tipicamente quando alimentos especificos são colocados na boca , a aversão inicial é seguida de recusa sistematica e tendem a generalizar o comportamento para diferentes produtos. Usualmente , quando maiores, tendem a comer melhor na casa de parentes ou na escola.
No entanto, o diagnostico de seletividade exacerbada deve ser considerado quando há associação do habito alimentar inadequado, dos disturbios sensoriais e da alteração nutricional, acompanhada de extrema ansiedade ao serem expostos a alimentos de que não gostam.
O tratamento da criança seletiva deve ser dirigido a estabelecer um entendimento por parte de seus pais e cuidadores de que o problema é amplo, tem influencia familiar, e envolve varios orgãos do sentido .
A criança necessita de modelos, de limites e de pessoas experientes e dedicadas para desenvolver uma mudança de atitudes de toda a familia. A criança deve ser convencida, educada e nunca agredida, por mais sutil que seja a pressão.
O diagnostico deve ser feito precocemente evitando-se a deterioração do estado nutricional, o aparecimento de carencias especificas e o decrescimo da curva ponderal .
Do ponto de vista nutricional, o uso de alimentos preferenciais ou de maior aceitação deve ser EVITADO e os alimentos novos devem ser sempre ofertados para o restante da familia, mas não para a criança seletiva, visando estimular a curiosidade.
A criatividade na apresentação dos alimentos é essencial, visando captar a atenção da criança.
Tecnicas de educação nutricional devem ser adotadas a longo prazo e não somente uma orientação nutricional esporadica. A educação nutricional deve ser realizada por profissionais experientes e , às vezes , com intervenção de psicólogos familiares e fonoaudiologos.
Para manutenção do estado nutricional durante o periodo de educação nutricional , o uso de um suplemento nutricional adequado, com formula equilibrada e completa, que proporcione um "seguro alimentar ", deve ser considerado.
Em caso de diagnostico de deficiencias nutricionais especificas, pode ser necessaria a utilização de medicamentos com ferro e zinco.
Suplementos completos possuem quantidades adequadas desses nutrientes e tem resultados comprovados em estudos feitos com pré - escolares brasileiros e em estudos internacionais.
O tratamento precoce é mais facil, especialmente no periodo de introdução de novos alimentos , enquanto que os pré-escolares exigem maior exposição a novos alimentos , ate dezena de vezes.
É essencial que o pediatra e os profissionais da saude tenham conhecimento dos tipos de diagnosticos dos disturbios alimentares, reconhecendo a seletividade exacerbada. E deem prioridade à preservação e ou tratamento das deficiencias nutricionais gerais e especificas neste momento crucial do crescimento e desenvolvimento. Deve ser parte imprescindivel da consulta pediatrica a identificação dos problemas nutricionais , o que demanda tempo e paciencia, alem de tecnicas adequadas de educação.
Os pais devem evitar Promessas, privilegios, ameaças e recompensas se a criança se alimentar, porque distraem a criança do objetivo principal e tem resultados pouco adequados. O modelo familiar é fundamental e essas crianças tendem a repetir comportamentos e rituais dos adultos da casa.
As crianças tendem a experimentar um novo alimento se observam seus familiares comendo os mesmos. Atitudes neutras são mais favoraveis que o excesso de elogios ou castigos. No entanto, algumas crianças persistem com comportamentos seletivos exagerados por muitos anos, e muitas levam esses rituais até a vida adulta. Remover a pressão intensa sobre elas pode ser o papel de suplementos alimentares , enquanto o processo educacional é realizado.
Algumas dicas:
1 - Crianças comem melhor quando recebem alimentos conhecidos e favoritos.
2 - Aceitam melhor alimentos que a familia aceita bem.
3 - Evitar ansiedade da criança oferecendo sistematicamente alimentos que causem ojeriza.
4 - Evitar situação de estresse obrigando a criança a comer em casa de amigos ou parentes.
5 - Realizar dessensibilização gradual, evitando oferecer alimentos quando a criança engasga ou vomita.
6 - Se a criança rejeita ou cospe alimentos, oferecer pequenas quantidades em outros momentos, seguidas de bebidas ou alimentos que a criança aceita normalmente.
7 - Aumentar gradualmente a oferta de alimentos menos aceitos.
8 - Rodiziar alimentos em refeições e dias.
9 - Oferecer alimentos a familiares, mas não para a criança ( avisar que o alimento é da familia mas que, se ela quiser, a familia irá oferecer para que ela experimente ).
10 - Ficar neutro independentemente da criança aceitar ou não um novo alimento.
11 - Trabalhar com educação nutricional com apoio de profissionais da area de nutrição.
12 - Alimentos podem ser decorados , ter carater ludico, mas não devem ser mascarados ou escondidos das crianças.
Dr. Antonio Carlos de Oliveira Biel
Alergista e Imunologista
Araçatuba , 23 de maio de 2012.